domingo, 30 de novembro de 2014

Sonhos, sonhos e sonhos


 Cai o Pano
Sonhei que era uma atriz e que interpretava magistralmente qualquer papel.
Minha vida era um palco, minha felicidade eram os aplausos do público que me venerava.
Ah! como amava aquele cheiro peculiar das coxias e o som quase musical das tábuas do tablado!
Sim era ali que me sentia feliz!
Em meu sonho só havia lugar para  magia e felicidade, não cabia tristezas, nem sofrimentos, nem abandono, nem decepções... Frustrações.
Só o cheiro e o som da felicidade.
Em meu sonho só havia o público ávido por minhas brilhantes apresentações. E com que fascínio me assistia, com que entusiasmo me aplaudia...Sim eles me amavam.
Em meu sonho, não havia lugar para ofensas nem descasos, desmerecimentos ou falta de amor.
Só havia lágrimas quando o papel exigia.
Mas um dia, a tristeza entrou em meu palco, quis dividir a cena comigo... E contracenamos.
O público temeu por mim, torceu por mim, chorou comigo!
E desta vez as lágrimas não foram porque o papel exigia. Desta vez as lágrimas foram de dor e desespero.
E o meu público, minha amada plateia, foi se retirando devagar, até que não restasse mais ninguém. Meu público que sempre me amara, fugiu de mim!
E me vi só em meu belo palco!
Só e completamente desamparada... Até os que frequentavam meu camarim se foram. 
Foi então que percebi que as cortinas começaram a se fechar. Entrei em pânico, gritei que não, não fechem as cortinas ainda. Eu ainda estou aqui!
Mas acho que ninguém me ouviu e nunca mais ouvirá.
Perdi!
Perdi tudo, minha juventude, minha beleza, minha vontade de atuar, meu público, meus aplausos, tudo perdido, tudo irremediavelmente perdido!
E agora que a cortina fechou por inteiro, eu me pergunto: por que ainda estou aqui?
E acordei desse sonho estranho com a mesma pergunta:
O que ainda estou fazendo aqui? (Penélope Freitas)

Mais sonhos
Queria nunca errar, nunca cometer equívocos, nunca me enganar em matéria de amor!
Queria nunca ver além do que realmente é, seria ou será.
Queria nunca ouvir além do que meus ouvidos carentes e apaixonados, me fazem escutar.
Melodiosas frases, palavras, sons sem sentido algum, mas que se tornam promessas de amor!
Queria nunca me enganar com coisas tolas que se travestem de significados tão reais de que sou amada e que o amor chegou pra mim!
Queria nunca experimentar a ilusão de sonhar que "sou sua menina,viu" e acordar em pranto,
em um canto do meu eu, que grita desesperadamente.
Ei acorda, isso foi só um equívoco, um erro de interpretação, do teu coração carente e incoerente! Louco para amar.
Acorda e prepara-te para mais uma tentativa.
Um dia, depois te tantos erros e acertos, enfim terás um começo feliz!
Acredita. Oh sim acredita! Que de tanto sonhares, um dia não mais será um sonho ou uma dolorosa ilusão.
Será real.
E o coração sonhador que tanto te iludiu agora vive de fato um amor, um grande amor.
E não mais terás medo de acordar e ver teu sonho se esvair.
E não mais será só uma ilusão, ou um equívoco, será sim uma paixão! (Penélope Freitas)




 E este lindos versos são os sonhos de Flor.

"És tu! És tu! Sempre vieste, enfim!
Oiço de novo o riso dos teus passos!
És tu que eu vejo a estender-me os braços
Que Deus criou pra me abraçar a mim!
Tudo é divino e santo visto assim...
Foram-se os desalentos, os cansaços...
O mundo não é mundo: é um jardim!
Um céu aberto: longes, os espaços!
Prende-me toda, Amor, prende-me bem!
Que vês tu em redor? Não há ninguém!
A Terra? - Um astro morto que flutua...
Tudo o que é chama a arder, tudo o que sente,
Tudo o que é vida e vibra eternamente
É tu seres meu, Amor, e eu ser tua!"
(Florbela Espanca, Charneca em Flor 1930)

Sentimentos Amordaçados

Alma inútil, tu não pertences a este lugar.
O que fazes aqui?
Quem te pôs neste corpo?
Se de ti não sentem falta?
Dores dilacerantes em teu peito.
Tanto tempo gasto para livrar-te destes fantasmas.
Eles ainda  te perseguem,  palavras sibilam em  teus ouvidos como chicotes rasgando-te as carnes.
Tu não tens nada, tu não és nada.
Queres voltar ao lugar de onde viestes.
Alma tola! Não sabes o caminho...
Precisas voltar, invejas quem volta!
Rompe o silêncio, grita teus segredos!
Sem medo, sem culpa, sem rodeios, sem falsos pudores.
Fala desse desejo louco, insano talvez, quem o sabe?

Solta o suspiro velado, o gemido tantas vezes abafado.
De revolta cruel, de prazeres contidos, de doídas dores.

Grita a ira dos amantes incautos, profanos.
Que feridas causaram, cicatrizes deixaram, por querer.
Brada aos quatro ventos que estais pronta e esperas.
Que não tens mais receios, amadurecestes sem envelhecer.
Queres amores grisalhos, sofridos, maduros, que como tu, viveram e cresceram.


Que tiverem medo e agora não mais.
Experimentando tudo o que faz um vir a ser.
(Penélope Freitas)

 
 

Desalento
Às vezes oiço rir, e 'ma agonia
Queima-me a alma como estranha brasa.
Tenho ódio à luz e tenho raiva ao dia
Que me põe n'alma o fogo que m'abrasa!

Tenho sede d'amar a humanidade...
Eu ando embriagada... entorpecida...
O roxo de meus lábios é saudade
Duns beijos que me deram noutra vida!
Eu não gosto do Sol, eu tenho medo
Que me vejam nos olhos o segredo
De só saber chorar, de ser assim...
Gosto da noite, negra, triste, preta,
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim!
(Florbela Espanca)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

(SAD) Sex Hot..

Ela não estava bem. Deitada em sua cama ardia em febre. Aquela noite seria especialmente triste.
Por companhia, apenas a respiração difícil e o delírio provocado pela alta temperatura do seu corpo.
Ah! Finalmente ele chegou.
Com seu carinhoso cuidado lhe tocou a testa com um beijo apaixonado e preocupado.
Ninguém sabia que estava doente, só ele.
E só ele tinha conhecimento da sua alma carente e desejosa de atenção.
Só ele se importava com seu bem - estar físico e emocional.
Era seu remédio para todos os males.
Era seu amor.
E fizeram deste momento de sofrimento, um raro momento de magia, pleno de felicidade.
Se amaram, como se fosse a última vez!
E foi.
Na manhã seguinte, o porteiro bateu em sua porta. Como de costume, levava o jornal todas as manhãs para a moradora solitária que nunca recebia visitas.
Desta vez ela não abriu.
Morrera só, com seu delírio de amor.
(Penélope Freitas)




Para uma linda mulher

Quando se fala em beleza, penso em você.
Quando comentam sobre carinho e cuidados, é de você que eu falo.
Ao ouvir falar de generosidade e pureza de alma, me orgulho de ter você.
Ao pensar em você, sinto meu coração transbordar de felicidade.
Queria poder fazer o tempo parar para você, mas esse desejo é impossível.

Existem palavras que não precisam ser ditas.


Mas há uma palavra, uma única palavrinha, em nosso extenso vocabulário.

Que não pode jamais ser esquecida ou calada.
Que não podemos deixar que morra na garganta, jamais ser sufocada pelos atropelos da vida!

Essa palavra é GRATIDÃO!
É esse o sentimento que eternizará você em minha vida!
Te amo para sempre!(Penélope Freitas)