domingo, 4 de janeiro de 2015
NASCIDA ENTRE DUAS MORTAS
Eles se conheceram, se enamoraram e casaram. Ele já tinha 35 anos, ela 25. Ela uma moça muito bonita e rica, ele um padre que deixara a batina.
Tempos de pecado! Um padre deixar a batina para casar, viviam no final dos anos 50. Que coisa feia... Esse casal deve ser castigado! Dizia o povo maledicente e preconceituoso.
Casaram e foram morar com a mãe do marido. A sogra era uma bruxa de ruim.
Atormentava a coitada da nora dia e noite!
O marido um dia confessou à esposa, que não lembrava de nenhum gesto de carinho da mãe para com ele. A velha realmente era uma pedra de gelo.
Passaram-se os meses e chegou a visita da cegonha. Os pais ficaram muito felizes, mas aconteceu uma tragédia - a menina nasceu morta! Que tristeza para o casal, principalmente para a jovem mãe.
Entretanto, poucos meses depois, ela engravidou novamente. Ficaram felizes, mas desta vez, muito temerosos. A mulher temia passar por nova decepção. Passou a gravidez inteira tensa, com muito medo de perder novamente a criança. Foram nove meses de apreensão e cuidados excessivos.
Até que finalmente o pesadelo acabou. Nasceu outra menina e desta vez saudável! Deram-lhe o mesmo nome da primeira que morreu. E a paz voltou a reinar na casa.
Mas não por muito tempo! A menina nascera com um tumor na face e precisou ser submetida a tratamentos dolorosos. Injeções para diminuir o tumor e impedir que tomasse todo o seu rosto e a transformasse em um monstro. Não adiantou, o tumor continuava a crescer e foi preciso retirar por meio cirúrgico. Ela ainda era um bebê, mas se saiu bem. Tudo voltou ao normal outra vez.
Mais uma vez a cegonha chegou para trazer mais um presente para aquela família.
Dessa vez a gravidez foi tranquila e nasceu outra menina. Mas a menina nasceu doente e só viveu quatro meses.
De três meninas nascidas apenas uma vingou. A primeira nasceu morta. A terceira morreu com quatro meses e a que sobreviveu, viveu o luto e o medo dos pais no útero da mãe, pela primeira irmã perdida. Depois viveu o abandono e toda a angústia dos pais pela doença da irmã, que ela própria dera o nome, sem ao menos saber falar. E Finalmente viveu o luto dos pais pela morte da terceira menina.
Moral da história: Nascer e viver entre duas mortas marca o inconsciente de uma forma tal, que mesmo vivendo uma vida inteira, não se apaga o luto e as sensações de angústia e ansiedade, medo, abandono e o sentimento de culpa que nunca se viveu. (Penélope Freitas)
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