Entretanto, quando essa pessoa descobre que viveu tantos anos se sentindo assim, única e exclusivamente por não saber lidar com suas próprias interpretações de suas emoções descontroladas e que seu discernimento lhe mostrou só o que a sua mente quis entender. Essa pessoa sente-se amada e acolhida no seio da família como um bebê que acaba de nascer.
É assim que me sinto agora. Finalmente entendi que toda a mágoa que sentia em relação a minha família era invenção da minha cabeça.
Como assim?
Simples. Entendi que quem tem transtorno bipolar ou qualquer outro transtorno afetivo ou de personalidade, vê somente o que quer ver. Vê a vida pela lente da doença, com um desvio, não vê o fato como ele realmente é. E dependendo da lente que cada um desses transtornos nos traz, as coisas ficam bem confusas.
Estudei essas teorias, mas foi na prática que entendi como elas funcionam.
Tenho transtorno bipolar e transtorno de personalidade e foi preciso um esforço enorme para "sair de mim" e observar o comportamento da minha família em relação a mim. Sem as minhas lentes psicopatológicas, pude ver nitidamente, sem as distorções, sem as cores carregadas de emoções que sou amada.
Como consegui? Sinceramente não sei. Penso que estive me preparando para isso já há um bom tempo. Na minha psicoterapia, na minha vontade de ver e saber. Na minha autocrítica.
Uma coisa eu sei. Vou continuar com os meus transtornos, isso não tem cura, tem tratamento e é o que eu faço. Porém, quando algum acontecimento banal tentar me levar a usar minhas lentes... Eu vou saber que são eles.
A diabólica doença tentando me enganar. Pelo menos com relação a minha família essas lentes não funcionam mais. (Penélope Freitas)